Maria pediu-me três grãos de feijão. Relutante, discursei sobre o desperdício de comida, enquanto os seus grandes olhos me fitavam brilhando. Esses olhos sempre me convencem de qualquer barbaridade. E por que não? São só três míseros grãos de feijão!
_ Ok, Maria. Aqui estão.
_ Mamãe, como se chama esse feijão? – desmascarou-me, vitoriosos, os olhos de jabuticaba, de exatos 6 aninhos...
Um dia, ouvira-me falar que comprei um feijão ruim, cujo nome era “Fradinho”. Agora ela sabia que eu só liberava-lhe os pequenos grãos, porque não gostara da leguminosa. Tarde demais. Senti-me trapaceira, porém não demonstrei. Respondi com ar inocente: - Humm... talvez seja o “fradinho”.
A pequenina pegou-os de minha mão e agradeceu. Saiu saltitando, como um coelhinho, até o quintal. Tomou um vaso largo, afofou a terra, cavou um buraquinho e os depositou. Cobriu-os com terra. Regou-os delicadamente.
_ Agora eu tenho uma “criação” de feijões – dizia a todos.
Dia após dia, Maria acordava cedo. Esperava-me abrir a porta. Corria para o seu vasinho. Conversava com os grãos e os regava com muito cuidado. Ao entardecer, corria de novo até o vaso e alegrava-se, pois todos os dias tinha novidade: um dia a terra se levantara. No outro, já dava prá ver um verdezinho bem ali, no pezinho: era uma árvore bebê a brotar.
Minha pequena, como sempre, a me ensinar lições de perseverança, fé e foco. Em infinitos 3 meses, contemplou a sua plantinha a crescer e desenvolver-se. Em nenhum momento se descuidou.
Um belo dia, aperece o meu coelhinho saltitante, com três viçosas vagens secas. Pediu-me para abrir. Tamanha foi a sua alegria quando, das três vagens, retirei 12 grãozinhos de lindos feijões fradinho.
_ Mamãe, faz eles pro almoço? – Intimou-me minha pequena “zoiuda”.
Cozinhei os feijões da pequena agricultora. Claro que acrescentei outros grãos à panela. Acho que jamais farei outro feijão tão saboroso.