quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Aqui...


Não quero o topo
Não quero aplauso
Não quero flores
Não quero amigos:
Eu não quero o seu lugar.

Tá legal prá mim
Aqui na lama fria
Já quis o alto algumas vezes,
(Estive lá)
E não gostei

Fantasmas me assombram
Mas eu não acredito em fantasmas.
A paisagem é bacana,
Mas é cinza: e não há beleza no cinza.

Não quero a espada:
Eu sou de brisa!
Não quero os fatos:
Eu não me importo.

Apenas quero o esquecimento
Assim está bem.
(Sinto-me incrivelmente bem)
Sempre que me recolho à minha
(tão minha)
Insignificância.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Quimera



Floreia lá fora
A vida
Tênue, fresca, límpida.

Arrefece  aqui dentro
A vida
Lânguida, morna, turva.

O que há com a vida?
Lá fora,
Passa, despreocupada, azul...

O que há com a vida?
Aqui dentro,
Que escapa, aflita, por nada, por tudo, tão cinza?

Ah, fico cá a pensar em quimeras...
Num dia flácido, sem lítio, de sol,
Numa noite , sem narcose, de lua,
Numa alegria que me venha plena,
Sem promessa de fim,
Ou a  ameaça da condição.

ELOISA ROCIA

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Maria e o pé de feijão


Maria pediu-me três grãos de feijão. Relutante, discursei sobre o desperdício de comida, enquanto os seus grandes olhos me fitavam brilhando. Esses olhos sempre me convencem de qualquer barbaridade. E por que não? São só três míseros grãos de feijão!


_ Ok, Maria. Aqui estão.

_ Mamãe, como se chama esse feijão? – desmascarou-me, vitoriosos, os olhos de jabuticaba, de exatos 6 aninhos...

Um dia, ouvira-me falar que comprei um feijão ruim, cujo nome era “Fradinho”. Agora ela sabia que eu só liberava-lhe os pequenos grãos, porque não gostara da leguminosa. Tarde demais. Senti-me trapaceira, porém não demonstrei. Respondi com ar inocente: - Humm... talvez seja o “fradinho”.

A pequenina pegou-os de minha mão e agradeceu. Saiu saltitando, como um coelhinho, até o quintal. Tomou um vaso largo, afofou a terra, cavou um buraquinho e os depositou. Cobriu-os com terra. Regou-os delicadamente.

_ Agora eu tenho uma “criação” de feijões – dizia a todos.

Dia após dia, Maria acordava cedo. Esperava-me abrir a porta. Corria para o seu vasinho. Conversava com os grãos e os regava com muito cuidado. Ao entardecer, corria de novo até o vaso e alegrava-se, pois todos os dias tinha novidade: um dia a terra se levantara. No outro, já dava prá ver um verdezinho bem ali, no pezinho: era uma árvore bebê a brotar.

Minha pequena, como sempre, a me ensinar lições de perseverança, fé e foco. Em infinitos 3 meses, contemplou a sua plantinha a crescer e desenvolver-se. Em nenhum momento se descuidou.

Um belo dia, aperece o meu coelhinho saltitante, com três viçosas vagens secas. Pediu-me para abrir. Tamanha foi a sua alegria quando, das três vagens, retirei 12 grãozinhos de lindos feijões fradinho.

_ Mamãe, faz eles pro almoço? – Intimou-me minha pequena “zoiuda”.

Cozinhei os feijões da pequena agricultora. Claro que acrescentei outros grãos à panela. Acho que jamais farei outro feijão tão saboroso.